A migração de atletas brasileiros para determinada região do mundo não é novidade. Itália, Japão, Portugal, Oriente Médio, Ucrânia e agora China: desde os anos 80, os jogadores da seleção brasileira vêm de variadas regiões do planeta.
Nos anos 90, o fluxo era para o Japão. Impulsionado por Zico e pelo desejo de dirigentes nipônicos em desenvolver o futebol no país, diversas estrelas do futebol brasileiro deixaram seus clubes no auge para atuar na então desconhecida liga japonesa.
O nível de competitividade era baixo, como é de se imaginar. Mas não havia a mesma cobrança por parte de imprensa e torcedores sobre a convocação desses jogadores para a seleção brasileira. Era natural.
Colabora para isso o fato de que a seleção havia conquistado o Mundial nos EUA, em 1994. A pressão sobre o time, portanto, era baixa. Não havia a necessidade de criar crises antes da hora.
Prova disso foi a Copa Umbro. O torneio amistoso, promovido pela patrocinadora da seleção inglesa, foi realizado em junho de 1995. Serviu como uma preparação para a Copa América do mesmo ano, que foi organizada no mês seguinte.
Como era de se esperar, a convocação de Zagallo não contou com os principais jogadores tetracampeões no ano anterior. Nomes como Romário, Bebeto, Mazinho, Raí, Ricardo Rocha, Mauro Silva, Branco e Taffarel ficaram de fora. Alguns por lesão; outros, simplesmente poupados.
A safra brasileira, no entanto, era farta. A lista dos convocados era respeitável da mesma forma. O jovem Ronaldo no ataque, formando dupla com Edmundo; Juninho Paulista, Zinho, César Sampaio e Dunga formando o meio de campo. Zetti; Jorginho, Aldair, Márcio Santos e Roberto Carlos fechando a defesa.
Dos 19 convocados, cinco atuavam no futebol japonês. César Sampaio e Zinho, do Yokohama Flügels; Ronaldão, do Shimizu S-Pulse; Gilmar Rinaldi, do Cerezo Osaka; e Leonardo, do Kashima Antlers.
À exceção de Rinaldi, goleiro reserva, todos os outros “nipônicos” eram essenciais para os planos da seleção. César Sampaio e Leonardo seriam titulares na final da Copa de 1998. Já Zinho e Ronaldão não chegariam até o Mundial, mas eram figuras carimbadas no período entre Copas.
O retorno do Japão também não era problema para esses jogadores. Leonardo ainda faria carreira de muito sucesso na Europa, no PSG e no Milan. César Sampaio e Zinho retornariam ao futebol brasileiro e seriam campeões da Libertadores em 1999, pelo Palmeiras. Ronaldão ainda defenderia o Flamengo. Somente Gilmar, já veterano, encerrou a carreira no Japão.
Mesmo sem seu poder máximo, o Brasil levou com sobras aquela Copa Umbro, disputada na Inglaterra. Fez 1 a 0 na Suécia, 3 a 0 no Japão e 3 a 1 nos donos da casa, levando o troféu para casa.
Aquela convocação também evidenciaria uma característica que se mantém até hoje: poucos jogadores atuavam no Brasil. Dos 19, apenas sete. Incluindo o então jovem Doriva, que defendia o XV de Piracicaba. Não é preciso mencionar que aquela foi a última vez em que um atleta do Nhô Quim foi chamado para a seleção.