Atlético de Tetuán, um marroquino na elite espanhola

Atlético de Tetuán, um marroquino na elite espanhola

Na década de 1950, clube norte-africano inspirado no Atlético de Madrid ascendeu à primeira divisão

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Elenco que disputou a primeira divisão em 1951 (Foto: Reprodução)
Elenco que disputou a primeira divisão em 1951/52 (Foto: Reprodução)

Anteriormente, o Alambrado já falou sobre times que disputaram ligas de países dos quais não são originários. Mas é pra lá de especial o caso do africano Atlético de Tetuán, que desbravou os limites ultramarinos e chegou à elite do continente europeu. Existe, obviamente, uma explicação histórica por trás desse fato peculiar, e nós vamos a ela.

No contexto da partilha imperialista da África, o território que hoje compreende o Marrocos era dividido por um acordo franco-espanhol que estabeleceu protetorados dos respectivos países no local de 1912 até 1956. Os franceses administravam a parte sul, cuja capital era El Aaiún, enquanto os ibéricos ficaram ao norte, a partir de Tetuão.

Em 1933, recém-fundado, o Atlético de Tetuán foi aceito na federação hispano-marroquina. Em 1936, graças aos seus êxitos futebolísticos, participou da Copa do Presidente (atual Copa do Rei) ainda como Athletic Club de Tetuán, que em 1941 seria rebatizado pelo nome aludido por conta de uma lei franquista que proibia estrangeirismos.

Curiosamente, um de seus fundadores era Fernando Fuertes, militar de carreira e ex-jogador do Atlético de Madrid, razão pelo qual a equipe marroquina tomou emprestados o primeiro nome e as cores de seu par espanhol. O escudo se assemelhava ao do Athletic Bilbao, por influência de outro colaborador, José Bacigalupe, que torcia para os bascos.

Em seguida, o Tetuán foi campeão de sua liga e passou a integrar a terceira divisão espanhola na temporada posterior. Depois de altos e baixos, com descensos e acessos, conseguiu atingir o segundo patamar do futebol hispânico em 1948/49. A boa fase seguiu em 1950/51, com o título da referida categoria e a promoção para a elite.

Até hoje, o clube ostenta a façanha de ser o único do norte da África a jogar na primeira divisão espanhola. A aventura na máxima categoria nacional, entretanto, durou apenas uma temporada. Enquanto o Barcelona levantava seu quinto título na história, os marroquinos amargavam o rebaixamento na desagradável condição de lanterna.

Em 30 rodadas, o time debutante somou 7 vitórias, 5 empates e 18 derrotas, com alguns registros positivos, a exemplo da goleada doméstica por 4×1 sobre o “xará” Atlético de Madrid e um polêmico empate por 3×3 contra o Real Madrid , que apesar de bravos não foram o suficiente para evitar a queda para a segundona, de onde nunca mais voltaria.

Em 1956, devido ao processo de independência do Marrocos, o Tetuán deixou de existir. Assim, jogadores e dirigentes se mudaram e optaram por fundi-lo com outra equipe do norte africano, a vizinha Sociedad Deportiva Ceuta, dando origem ao Atlético Ceuta, que herdou a vaga na segunda divisão. Em Tetuán, os remanescentes fundaram em 1961 o Mogreb Atlético Tetuán, levando a cor, a torcida e o estádio de seu antecessor.

Por um lado, o Ceuta, que hoje milita na quarta divisão nacional, nunca ascendeu à elite espanhola. Por outro, o Tetuán é hexacampeão marroquino, tendo conquistado seu último título em 2014, coincidentemente junto com o Atlético de Madrid que há 80 anos inspirou sua fundação. Uma dessas belas história que o futebol nos proporciona.

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