A ousada loucura de Paco Jémez

A ousada loucura de Paco Jémez

Conheça um pouco mais do estilo de jogo do treinador que vem surpreendendo na Espanha

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O futebol é um dos mais injustos divertimentos da humanidade. Dá alegria a quem ganha, mas causa uma fúria inexplicável ao perdedor e para quem o segue. Na atualidade, é quase impossível uma torcida sair satisfeita após um revés, mesmo que a equipe derrotada tenha apresentado um futebol bonito e ofensivo.

A linha tênue entre ousadia e teimosia está instalada em muitos treinadores do futebol mundial. Alguns partem para uma dita “loucura” consciente e chegam até a revolucionar o futebol. Caso de Guardiola no comando técnico do Barcelona no fim da última década. Campeão de tudo com sobras e méritos.

Outros são chamados de “loucos” até de forma pejorativa e são considerados treinadores que nunca conseguem títulos. Tachados de fracassados por alguns. Precisam reafirmar a todo momento a sua filosofia de jogo. Exemplo perfeito é o de Marcelo Bielsa. Amado e odiado. Ídolo e Louco.

Estes são alguns casos mais recentes e demostram o quanto inovar em algum aspecto traz cargas muito fortes. Apesar das dificuldades encontradas, tais treinadores entraram para a história e, de certa forma, conseguiram disseminar seus ideais entre alguns técnicos mais jovens.

Tal forma de enxergar o tabuleiro do jogo é compartilhada pelo singular Paco Jémez. Treinador do não menos original Rayo Vallecano, um dos clubes mais charmosos da Espanha, Paco – de 44 anos –  sintetiza muito bem o limiar entre ousadia e teimosia. Com modo de jogo bem definido, ele não abre mão de um jogo vistoso e valente, mesmo quando esses adversários são os gigantes Barcelona e Real Madrid.

A incrível relação entre Paco e o Rayo Vallecano (Foto: Divulgação/rayovallecano.com)
A incrível relação entre Paco e o Rayo Vallecano (Foto: Divulgação/rayovallecano.com)

Apesar de possuir uma carreira de oito anos como técnico, foi em Vallecas que Paco Jemez planificou tudo que tinha em mente. E também foi no modesto Rayo Vallecano – que conta com uma das menores receitas do campeonato espanhol – que ele chocou o mundo e foi notícia.

No dia 21 de setembro de 2013, o Rayo Vallecano cravava uma mordida dolorosa no espiríto Culé. Apesar da vitória do Barça por 4 a 0 sobre o Rayo na própria casa do adversário, parecia que o Barcelona saiu mais enfraquecido. A tão cultuada posse de bola catalã foi destruída e roubada pelo modesto clube de Vallecas. Fim de partida e 55% de posse para o Rayo. Após cinco anos e 317 partidas, a arma dos barcelonistas estava apontada para eles próprios.

Era a segunda temporada de Jemez, antigo volante brigador, à frente do Rayo Vallecano. Mesma temporada em que o clube passou por dificuldades e figurou quase o campeonato inteiro na zona do rebaixamento, escapando apenas no final da última partida da competição. Ao mesmo tempo, foi o momento de afirmação de uma filosofia de jogo. Mesmo com maus resultados, o técnico foi bancado pelo presidente e pela torcida. Na temporada anterior, tinha feito 53 pontos e chegado à 8°colocação. Recorde histórico do clube.

Em meio a temporadas inconstantes, o futebol sempre continuava vistoso. Ataque positivo e uma das defesas mais vazadas, além de goleadas sofridas para Real Madrid e Barcelona, eram rotineiros. Contudo, a filosofia estava implantada, a posse de bola sempre grande e as convicções audaciosas e corajosas em campo sendo vistas dentro de campo.

O atrevimento leva o Rayo Vallecano, hoje, a ter o 7° melhor ataque da liga espanhola e ser o 3° clube com mais posse de bola no campeonato – atrás apenas de Barcelona e Real Madrid. A equipe é a 9° colocada com 38 pontos, uma posição confortável na tabela.

O bom meio-campista Roberto Trashorras é o craque do time (Foto: Divulgação/rayistas.com)
O bom meio-campista Roberto Trashorras é o craque do time (Foto: Divulgação/rayistas.com)

Toda essa boa campanha sem praticamente nenhuma receita para compra de jogadores. A maioria do plantel é formada por promessas que não deram certo em outros times, casos de Licá, Kakuta e Baena, além de experientes jogadores como David Cobeño e o craque da equipe, o meio-campista Roberto Trashorras.

O camisa 10 é o maestro do time. É o coração que pulsa  a cada passe certo. E não são poucos. Ele é o jogador que mais dá passes por partida no campeonato espanhol. É uma espécie de Xavi do Barcelona de Guardiola. É dele a função de, em campo, soldificar a filosofia atrevida de Paco Jémez.

O atrevido e corajoso treinador se define bem nesta frase: “Não entendo o futebol em minha vida sem assumir riscos”. Ele assumiu. Agora é a sensação entre os treinadores espanhois. O estilo também é visto no futebol brasileiro e pode ser até comparado com o de Fernando Diniz.

Não se sabe ao certo qual o estilo correto e que conquista títulos para um técnico.O fato é que idealistas como Paco Jemez enxergam o jogo de outra forma e tentam passar para o público a magia, na visão dele, do futebol. Audacioso e corajoso, Paco continua fazendo história no Rayo Vallecano. Vallecas é agora a terra da ousadia.

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