Emocionalmente árdua. Assim pode ser definida a tarefa outorgada ao técnico galês Chris Coleman nos primórdios de 2012. Na ocasião, o ex-jogador se aventurava no futebol grego em sua nona temporada à beira dos gramados quando deixou o comando do Larissa, em janeiro daquele ano, alegando dificuldades financeiras do clube, para assumir o País de Gales. Como já foi dito, seu trabalho não seria nada fácil por vários motivos.
Além de comandar um time que representava uma nação com aproximadamente 3,1 milhões de habitantes e não se classificava para um torneio importante desde a Copa do Mundo de 1958, na Suécia, onde obteve o quarto lugar, Coleman precisava substituir no cargo ninguém menos do que seu amigo de infância e ex-companheiro de seleção Gary Speed, antigo recordista de jogos na Premier League, falecido dois meses antes.
Na manhã de 27 de novembro de 2011, enquanto Coleman estava na Grécia, Speed, 42 anos, foi encontrado sem vida, na garagem de sua residência, em Huntington, Cheshire, no oeste da Inglaterra.
Sua esposa, Louise, encontrou o corpo dele pendurado na garagem. Devido aos sinais de enforcamento, a polícia local acreditava na hipótese de suicídio e não tratou a morte do treinador como suspeita.
Horas mais tarde, a Associação de Futebol do País de Gales (FAW, na sigla em inglês) anunciou ao público a morte de Speed, fato que causou grande comoção. Nascido no vilarejo de Mancot, na fronteira de Gales com a Inglaterra, o volante havia jogado futebol profissionalmente por Leeds United (1988-1996), Everton (1996-1998), Newcastle United (1998-2004), Bolton Wanderers (2004-2008) e Sheffield United (2008-2011).
O principal destaque em sua galeria era o título do Campeonato Inglês com o Leeds, obtido na temporada 1991/92. No Newcastle, desfrutava de uma glória imaterial: a condição de ídolo, embora nunca tenha erguido uma taça pelo clube alvinegro. Só perdeu o recorde de participações na Premier League em 2009. Atualmente, é o 5º colocado na relação, atrás de Giggs (632), Lampard (609), Gareth Barry (595) e David James (572).
Em nível internacional, ele capitaneou o País de Gales em 44 de 85 oportunidades, tornando-se até hoje o segundo atleta que mais vestiu a camisa da equipe nacional, atrás do goleiro Neville Southall (92). Pendurou as chuteiras em 2010 e, com apenas quatro meses de experiência à frente do Sheffield, foi chamado para dirigir o selecionado galês, tendo relativo destaque em sua breve passagem: 5 vitórias e 5 derrotas em 10 jogos.
Os resultados positivos, incluindo triunfos sobre Suíça e Bulgária pelas eliminatórias para a Eurocopa de 2012, renderam a Gales sua melhor posição no ranking da FIFA em 17 anos (45º lugar).
Em virtude de todas as circunstâncias mencionadas, Chris Coleman teria um empreitada fatigante. E sua caminhada começou de maneira desalentadora: 5 derrotas seguidas, amplificadas pela goleada de 6 a 1 para a Sérvia.
O treinador cogitou deixar o cargo, mas sabia que precisava dar continuidade honrada ao trabalho de Speed e se reabilitou nos confrontos seguintes, com o apoio da FAW, mesmo sem a vaga para a Copa do Mundo de 2014. Hoje, é semifinalista da Eurocopa e defronta Portugal, em Lyon, em busca de um lugar na decisão inédita. Nesse momento extasiante e desafiador, ele não se esquece da influência do antigo amigo.
“Somos da mesma geração, defendemos equipes inglesas e jogamos por Gales. Speed era um grande amigo. Se estivesse vivo estaria sentado aqui no meu lugar conversando com vocês. Infelizmente isso não é possível. Penso nele todos os dias, pois Speed é um ícone não somente em Gales, deixou-nos um grande legado e será lembrado a cada sucesso desta seleção”, afirmou o comandante, recentemente, em entrevista coletiva.
De fato, Speed é sempre lembrado nos cânticos da torcida galesa na França, antes de cada jogo válido pelo torneio continental. “There’s only one Speedo”, bradam nos estádios os fanáticos, que renovam seus sonhos e depositam sua fé em cada investida do escrete nacional, afirmando sua identidade e mantendo viva a memória daquele que, sofrendo em silêncio, resolveu abreviar sua presença física no mundo.