A primeira grande gloria do futebol belga foi a presença na final da Eurocopa 1980. Até lá, a metade menor dos países baixos não tinha tradição relevante no cenário do futebol mundial.
Claro que a medalha de ouro nos jogos da Antuérpia em 1920 foi uma conquista especial, ainda mais sendo em casa. Porém, em 1980, a geração de Ceulemans, Van der Elst, Vandereycken e Gerets quase alcançou a glória continental e colocou de vez a Bélgica no mapa.
Outros jovens, como os míticos goleiros Pfaff e Preud’homme, além de Vandenbergh, também apareciam com boas atuações. O vice-campeonato da Eurocopa daquele ano dava o aviso aos países vizinhos. Ou melhor, não só para eles.
A conquista da primeira “ótima geração belga” só não veio por causa do gol de Hrubesch já aos 43 minutos do segundo tempo. A consagração da Alemanha como bicampeã europeia contra uma equipe em ascensão.
A classificação posterior para a Copa do Mundo de 82 e a Eurocopa 84 era a comprovação da evolução dos belgas. Na Espanha, a vitória por 1 a 0 sobre a Argentina surpreendeu a muitos. O gol de Vandenbergh mostrava que a geração não estava para brincadeiras.
E o que dizer então da participação na Copa de 1986? No México, a Bélgica chegou às semifinais e só foi parada pela Argentina de Maradona. Os dois gols do Pibe tiraram o sonho de uma final de mundial dos belgas. Depois do revés, ainda foi batida pela França na disputa do 3° lugar. Mesmo assim, a plenitude já estava alcançada com a excelente campanha.
Porém, a trajetória para estar naquela Copa já começou de forma hercúlea. Uma das vitórias mais emblemáticas da história dos belgas ocorreu nas Eliminatórias para o mundial daquele ano. Após uma primeira fase ruim na fase de qualificação, a Bélgica encontraria os grandes rivais holandeses nos play-offs europeus.
Mesmo diante de um adversário diferente da magnifica equipe dos anos 70, a Holanda possuía uma nova safra que prometia muito. Van Basten, Gullit e Rijkaard começavam a mostrar talento em solo holandês. Apenas Willy Van der Kerkhof ainda restava do time de 1974.
O temor era grande, mas capitaneados por Jan Ceulemans, talvez maior jogador do futebol local, a Bélgica se encheu de coragem e enfrentou a Orange de peito aberto.
A Bélgica tinha uma equipe muito mais experiente que a da final da Eurocopa 1980, com Pfaff no auge, Gerets em grande fase no PSV, isso sem falar dos talentos já citados. Mas havia um ingrediente a mais no bolo belga.
Enzo Scifo, o eterno príncipe, tinha apenas 19 anos à época e ficou no banco de reservas nos duelos contra a Holanda. Era o jogador que adicionaria mais criatividade e técnica na seleção belga no México.
No confronto do dia 16 de outubro de 1985, o técnico Guy Thys colocou a melhor formação em campo. Diante de uma Holanda ofensiva e reformulada, o ponta-esquerda Frank Vercauteren se sentiu em casa no estádio do seu próprio time, o Anderlecht. Em um estádio Constant Vanden Stock completamente lotado, ele aproveitou uma blitz ofensiva para bater de esquerda de fora da área e fazer um golaço aos 20 minutos do primeiro tempo.
Resultado importantíssimo tendo em conta a vantagem de não levar gols em casa. A decisão foi marcada para 20 de novembro. E o palco seria o mítico estádio De Kuip.
Palco que exercia (e ainda exerce) uma pressão incomum nos adversários, e onde a Holanda possuía bom aproveitamento.
O desespero da torcida da Laranja Mecânica foi enorme naquele dia. Mesmo com um ímpeto ofensivo muito grande e um ótimo Rob de Wit, o gol parecia não sair.
Aos 15 minutos do segundo tempo, em uma das belas jogadas pela esquerda de Rob de Wit, o atacante descolou um cruzamento fechado e, após uma bobeada do sempre sólido Pfaff, Houtman concluiu de cabeça e pôs o confronto em igualdade.
Parecia que a vontade da Orange era definir o jogo no tempo normal. Após grande jogada de Guliit e mais uma bobeada de Pfaff, Rob de Wit novamente estava lá. O incansável ponta-esquerda (que fazia um dos seus últimos jogos pela Holanda) concluiu com um belo chute de canhota e fez 2 a 0 aos 27 minutos.
A festa holandesa não se confirmou. Pior do que isso, virou tragédia com tom de melancolia. Aos 40 minutos, o zagueiro grandalhão Grun- que tinha entrado no intervalo no lugar de Leo Van der Elst- fez um dos seus únicos seis gols com a camisa belga. E, com certeza, o de maior importância.
A cabeçada mais importante do zagueiro e um dos voos mais altos da Bélgica. A vitória emblemática que marcou a melhor geração da história do país. Aquela que mais tarde seria semifinalista de uma Copa do Mundo.