A cidade de Pescara, com pouco mais de 100 mil habitantes e localizada próxima à famosa Nápoles, não é um dos berços do futebol italiano. O reconhecimento por meio do esporte demorou a chegar. Apenas na década de 70 a equipe conseguiu o seu espaço na primeira divisão.
No entanto, foi só no final dos anos 80 que o Pescara se firmou e conseguiu permanecer por mais de uma temporada na série A. O clube ficou ainda mais famoso por ter o grande lateral esquerdo Júnior e o excelente meio-campista iugoslavo Blaž “Baka” Slišković no seu elenco.
Quase 20 anos depois, o clube do sul da Itália voltou a ser manchete não só na Itália, mas também em todo o mundo. Após decepções em campo e até falência, a equipe tentava se reerguer. Na segunda divisão, o Pescara apostou no mago Zdeněk Zeman, excelente técnico tcheco que prima por equipes excessivamente ofensivas. A receita da loucura precisava de uma pitada de talento. Ela veio em larga escala, ou melhor, com três jovens jogadores, sendo dois que chegaram por empréstimo ao sul da Itália.
A grande campanha
Para a temporada 2011-2012, três jovens promessas foram importantíssimas para o acesso. Um que já encantava nas categorias de base do Pescara e outros dois que foram desabrochar para o futebol nos Golfinhos e encher de esperança torcedores italianos.
Antes mesmo de relembrar essas promessas que deram show na divisão de acesso, vale reviver a campanha da equipe no torneio.
Foram 83 pontos ganhos, construídos ao longo de 42 jogos, com 26 vitórias, apenas cinco empates e 11 derrotas.
O mais incrível no desempenho da equipe foi o desenvolvimento ofensivo. 90 gols e média de mais de 2 gols/partida. Com os 55 tentos sofridos, o saldo ficou positivo em 35, o mais alto da competição.
Além dos ótimos números, o que mais impressionou foram as vitórias diante de difíceis e tradicionais adversários. Para se ter noção, o vice-campeão da competição foi o grande Torino, sendo a outra equipe classificada a Sampdoria, que perdeu nas rodadas finais por dois a zero do Pescara.
As joias da coroa
Os três jovens que possibilitaram toda a magia apresentada pelo Pescara e a formação de uma equipe que fez história.
Marco Verratti
A Zemanlandia, como ficou conhecido o estilo de trabalho de Zeman, instituiu-se em uma loucura organizada. Muito dessa obediência e consistência tática veio através dos pés e da cabeça de um jogador espetacular. Quando utilizam-se os clichês todo-campistas e volante moderno, todos pensam em jogadores que desempenham mais que uma função em campo. No caso de um volante, além da força defensiva também é necessário comprometimento com a construção de jogadas.
Seguindo ao pé da risca essas exigências, Pirlo tornou-se uma lenda na Itália. Seguindo seus passos, Verratti vem fazendo história no campeonato francês.
Em 2012, ele era o jogador mais novo do tridente Verratti-Insigne-Immobile. Na época com 19 anos, o meio-campista também era o mais inteligente dentro das quatro linhas.
Com 1,65cm o “baixinho” era o primeiro volante dos três aletas do meio-campo do técnico tcheco. O jogador fazia a função de ser o cérebro da equipe. Sempre era o encarregado pelo primeiro passe, tendo alto índice de acerto.
Hoje, aos 22 anos, o “volante” brilha no Paris Saint-Germain e já acumula 10 convocações e um gol pela seleção italiana. A missão de substituir Pirlo à altura já começou e pode ser encarada como mais um objetivo a ser alcançado com naturalidade pelo grande maestro.
Lorenzo Insigne
Ser comparado a Maradona em algum momento da carreira é para poucos. Quando essa comparação chega quando se tem 21 anos, é inevitável a euforia por um talento. A altura diminuta, 1,63cm, o talento na perna esquerda e os lampejos durante a série B em algum momento fizeram alguns jornalistas a cometer essa “heresia”.
Também comparado a Messi, o jogador conseguiu marcar 18 gols e dar sete assistências na competição. Era o ponto de desafogo do time. Aquele jogador das jogadas inesperadas. O talento nato para driblar era mais evidenciado nos rápidos contra-ataques pelo lado esquerdo do ataque do Pescara. Quase imparável no um contra um, o atleta foi escolhido o melhor jogador da concorrida série B 2011-2012.
Após a brilhante temporada, Insigne voltou à terra prometida. Talvez a característica mais semelhante a Maradona seja justamente o seu time. Em Nápoles, o jogador começou a temporada 2012-2013 muito badalado. O desempenho não tão bom foi agravado por algumas lesões.
A perseguição destes obstáculos atrapalharam também sua carreira na seleção italiana. Na categoria sub-21, foram sete gols em 15 jogos e um vice-campeonato europeu. Na Azzurra principal, foram apenas seis convocações e um gol.
Hoje, o talentoso meia-esquerda busca seu espaço na equipe titular do Napoli, treinado por Rafa Benítez.
Ciro Immobile
Seguindo a tradição dos recentes centroavantes italianos -desde Schilacci, passando por Vieri e chegando em Borrielo-, Immobile é mais um dos cascudos e fortes camisas 9 tradicionais italianos. Fazedor de gols nato, o atacante foi artilheiro por onde passou. Ou melhor, em quase todos.
Revelado pela Juventus, o atacante recebeu poucas chances da equipe de Turim. A explosão só veio na série B com o Pescara, na altura com 22 anos. Sob o comando de Zeman, formou o ataque de 90 gols. A contribuição do centroavante foi grande. 28 gols e muito talento na grande área adversária.
Com Verratti e Insigne armando, mais bons coadjuvantes de luxo -Sansovini, Cascione e Nielsen- Immobile foi muito bem alimentado. As dúvidas sobre o prosseguimento da carreira surgiram, mas logo foram jogadas pro ar com as atuações no Genoa e, principalmente, Torino. Com a camisa grená, foram 22 gols em 33 jogos e artilharia do campeonato italiano da série A.
Dobradinha histórica e reconhecimento. No início desta temporada, foi contratado pelo Borussia Dortmund por 8 milhões de euros. As participações com a camisa amarela ainda não renderam, com apenas três gols em 15 partidas. Mesmo assim, a confiança dos italianos continua, já que o atacante marcou com a camisa da seleção e ainda busca manter viva a tradição do camisa 9 da Azzurra.