Futebol é arte?

Futebol é arte?

Documentário "Atrás da Bola" (2014) tenta explicar o fenômeno do futebol misturando arte, sociologia e ciência

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Artista plástico brasileiro dirige e estrela o documentário "Atrás da Bola" (Foto: Reprodução)
Artista plástico brasileiro dirige e estrela o documentário “Atrás da Bola” (Foto: Reprodução)

O que está por trás do rolar de uma bola em alguma superfície? Porque algo tão simples mobiliza bilhões de pessoas ao redor do planeta? Qual a explicação lógica para que um simples esporte se torne um instrumento de identidade cultural tão forte?

Os questionamentos acima certamente são frequentes para aqueles que não gostam de futebol. Para os demais, é inconsciente. Não há necessidade de resposta, ou da tradução destes sentimentos em palavras.

Mas como o artista plástico Vik Muniz faz parte do primeiro grupo, como ele próprio admite em cena, o documentário “Atrás da Bola” (This is not a Ball, 2014) faz todo o sentido. Dirigida e estrelada pelo brasileiro, em uma co-produção entre Brasil, Estados Unidos e México, a globalizada obra corre atrás dessas respostas em cerca de uma hora e meia. O filme pode ser encontrado no Netflix.

O roteiro não esconde que seu público alvo é o norte-americano, país no qual o “soccer” não é lá muito popular – conceito em transformação, diga-se, especialmente pela imensa quantidade de imigrantes latinos nos EUA. Foi lançado a poucos meses da Copa do Mundo de 2014, evento que quebrou recordes de audiência na terra do Tio Sam.

Ao todo, a superprodução visitou sete países, para destacar as diferentes – e complementares – visões sobre o futebol. De favelas brasileiras a comunidades pobres em Serra Leoa e China, passando por áreas desenvolvidas, como EUA e Alemanha.

O didatismo nas explicações sobre futebol, parte característica do roteiro, pode soar um tanto clichê para os familiarizados com este universo. No mais, “Atrás da Bola” não deixa de ser um curioso, abstrato, e amplo retrato sobre a relação do homem com a modalidade. O gancho para isso é simplesmente a ferramenta principal do esporte: a bola.

Em filme, Muniz produz obra de arte utilizando bolas de futebol (Foto: Reprodução)
Em filme, Muniz produz obra de arte utilizando bolas de futebol (Foto: Reprodução)

Psicólogos, artistas e até cientistas tentam explicar o inexplicável fenômeno. Desde a relação de estabilidade da bola sobre uma superfície, a atenção que a mesma promove a uma criança, ou ao acréscimo de (bom) humor a funcionários quando estes trabalham com formas esféricas. De costureiros de bolas na Ásia, ao grupo de designers alemão, passando por um time de amputados na África, vítimas de guerra civil. Uma agradável mescla de narrativas, sempre muito bem amarradas.

Em meio a isso, Vik Muniz tenta colocar em prática sua mais nova obra – um ensaio fotográfico que utiliza apenas bolas de futebol, no estádio Azteca, no México, e em um campinho de terra no Brasil. Mais ou menos no formato de “Lixo Extraordinário” (2010), premiado documentário rodado em um lixão no Rio de Janeiro que chegou a ser indicado ao Oscar. Afinal, em time que está ganhando, não se mexe.

É neste fio narrativo que Muniz chega, sutilmente, à parte mais pretensiosa do filme. Ao buscar a relação entre arte e futebol. Seria esta a resposta para todas as perguntas do início do texto? Um dos entrevistados, o respeitado artista plástico mexicano Gabriel Orozco bate o martelo: “Quando assistimos ou jogamos futebol, sabemos que há momentos em que acontece algo artístico, poético. Arte é momento”.

Vale a reflexão.

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