No próximo domingo (26), Botafogo e Vasco da Gama disputarão o primeiro jogo da final do Campeonato Carioca, 18 anos após o último encontro dos clubes na decisão do estadual. Na disputa pelo título em 1997, houve até uma rebolada digna de loira do Tchan protagonizada em campo por Edmundo “Animal”. Contudo, a equipe do Alambrado volta um pouco mais no túnel do tempo para recordar a final de 1990.
Na época, o Glorioso e o Gigante da Colina ficaram frente a frente, e a competição precisou ser definida no tribunal. Antes do embate decisivo, a invencibilidade do time cruz-maltino sobre o Botafogo era de 9 partidas. Mas, além da escrita, estava em jogo a taça do torneio.
Por um lado, o então cabeludo zagueiro Gonçalves e o carrasco Donizete comandavam a Estrela Solitária em busca do bicampeonato. Já pelo lado vascaíno, estavam o ótimo meio-campista Bismarck, o artilheiro Sorato e o veterano de guerra Roberto Dinamite, já com 36 anos e passagens pela Seleção brasileira e Barcelona.
As equipes se enfrentaram no dia 29 de julho de 1990, em mais um domingo de Maracanã lotado. O jogo demorou para esquentar por conta do forte frio que rondava o estádio. O primeiro lance de perigo surgiu após um carrinho do meio campista vascaíno Marco Antônio “Boiadeiro”, que iniciou sua carreira no Botafogo, em Carlos Alberto Dias.
Na cobrança da falta, o lateral botafoguense Paulo Roberto judiou da pelota e a mandou no canto esquerdo do mítico goleiro Acácio. Pena que a bola foi para fora sem dar um grande susto no arqueiro adversário.
O Vasco demorou a engrenar e só foi para o ataque com perigo efetivo depois dos 15 minutos. Com uma sequência de faltas e escanteios, os cruz-maltinos deixavam o goleiro Ricardo Cruz de cabelo em pé. Vale lembrar que, no ano anterior, o arqueiro havia ajudado o Botafogo a sair de uma fila de 20 anos sem taças.
Pela esquerda, um talentoso jogador chamava a atenção. Lembra do lateral Mazinho, campeão da Copa de 94 com o Brasil e ídolo da torcida vascaína? Pois é! Ele fazia um verdadeiro carnaval pelo lado esquerdo do time da Colina. Voava para cima dos botafoguenses, e as investidas do atleta terminavam em escanteios ou bolas afastadas por Gonçalves e Wilson Gottardo, que estavam impecáveis naquele dia.
No mais, o primeiro tempo foi assim, bola cruzada na área do Fogão, mas pouco perigo efetivo. A segunda etapa começou pegando fogo, com o Vasco indo para cima. Quando o Gigante da Colina parecia tomar conta do jogo, o Glorioso tratou de pôr ordem na casa e devolver a bola na trave dos cruz-maltinos.
Aos 36 minutos, a euforia para metade do Maracanã. Depois de boa jogada pela esquerda, bola cruzada na área a meia altura. Waldeir e Donizete deram bobeira e não aproveitaram para empurrar para a rede, mas Carlos Alberto Dias não perdoou e mandou para o fundo do barbante, abrindo o placar e correndo para a galera.
A partir do gol, só alegria para a Estrela Solitária. Mas quem achava que o momento seria só de festa estava enganado. Este foi o início da confusão. Para os botafoguenses, a partida tinha acabado ali, com direito a volta olímpica carregando a taça Cidade de Friburgo, que ninguém sabe dizer de onde havia aparecido. Em oposição ao coro de “bicampeão”, a torcida vascaína esperava pela prorrogação, pensando que o regulamento havia sido mal interpretado.
O campeonato havia sido criado de forma confusa, mas, a grosso modo, a final daquele ano contaria com três times: Fluminense, Vasco e Botafogo, sendo que este era o time com maior número de pontos somados após a última rodada do segundo turno.
A competição entrou em recesso por conta da Copa do Mundo daquele ano, e as finais ficaram marcadas para os dias 22 e 29 de julho. Nesse período, a Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FERJ) reuniu-se com os clubes e tentou alterar o regulamento para um formato que não favorecia o Botafogo.
Mesmo com o voto contrário dos botafoguenses, tanto o presidente da FERJ quanto o presidente do Vasco da Gama, Antônio Soares Calçada, entenderam que a proposta de acabar com a vantagem do time de General Severiano havia vencido.
E assim foram para o jogo da semifinal. O Vasco (campeão da Taça Guanabara) derrotou o Fluminense (campeão da Taça Rio) por 1 a 0, ganhando o direito de enfrentar o Botafogo (mais pontos no geral) e tentando fazer valer o novo regulamento. Este determinava que, mesmo que o time botafoguense vencesse o jogo, haveria uma prorrogação para decidir o campeão.
O Botafogo negou-se a disputar o tempo extra e saiu de campo de posse da taça. Confusão gigante no Maracanã. Para não ficar atrás, Dinamite e companhia foram até as arquibancadas e pegaram com um torcedor uma caravela de papelão com o símbolo do Vasco. Os jogadores fizeram o objeto de troféu e deram a sua própria volta olímpica, levando a torcida ao delírio.
O torneio foi decidido a favor da Estrela Solitária meses mais tarde com uma ação judicial lhe deu o direito de receber a taça permanente, resolvendo o impasse que havia provocado uma das maiores polêmicas da história do Campeonato Carioca.